quinta-feira, 20 de março de 2008

Torga, o poeta da angústia e da esperança


Apetece cantar, mas ninguém canta.

Apetece chorar, mas ninguém chora.

Um fantasma levanta

A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.

Apetece fugir, mas ninguém foge.

Um fantasma limita

Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.

Apetece matar, mas ninguém mata.

Um fantasma percorre

Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! maldição do tempo em que vivemos,

Sepultura de grades cinzeladas,

Que deixam ver a vida que não temos

E as angústias paradas!

( Miguel Torga, 1907 )
in Cântico do Homem


(poema enviado pela prof Marina)

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